segunda-feira, 21 de setembro de 2009

auto- retrato Perpétua Serteza

 
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9.liquidificador


Não tenho idéia por onde estou andando e nem avalio onde essas viagens podem me levar.Bato no liquidificador as frutas da manhã e entro no jogo infantil ou na brincadeira senil com as palavras e os múltiplos caminhos que elas percorrem, à procura de alguma semelhança.Tendo desistido de entender o sistema,crio regras ou traço mapas inferenciais,como forma de delimitar e imprimir um pouco de lógica e prazer as buscas.
O que estou procurando? O que pretendo nessa busca tão aleatória quanto o universo pesquisado? Poder ler e escrever na tela, já é uma aventura.Ao obter respostas que jorram infinitamente, sinto-me embriagada e deliciosamente perdida no excesso de informações,histórias e imagens.
É uma espécie de loucura associativa, na qual,tudo pode remeter a tudo, e esse tudo é quase sempre nada. Por exemplo, ao escolher a palavra suco,verifico que há 9999999 entradas, para esse vocábulo.Se,entrasse em cada porta, mesmo considerando,somente o suco gástrico,jamais conseguiria dar conta da pesquisa e o jogo virtual perdia a graça,amarrando-me à repetição e à alienação.
De certa forma,a enciclopédia,o grande catálogo ou as notícias brotando aleatoriamente na tela, se equivalem à propaganda que paga e apaga toda tentativa de hierarquização.Tudo tem o mesmo peso e cabe ao usuário escolher as relações que lhe convém.Isso é que é, democrático e não ideologizado.Finalmente, conseguiu-se acabar com a história, o lixo está sendo reciclado ou triturado e o homen já pode virar suco.
O significante à deriva derruba fronteiras,línguas,gramáticas,dinheiros,diferenças e classificações.Tudo plural,fragmentado e organizado dentro da lógica digital.A falta de comunicação por excesso de informação ou o buraco negro que tudo engole e expele.Sistema operacional,sistema nervoso......wire less

8. ratos

 
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O maior inconveniente da velhice é você ter que provar,diariamente,que está vivo,até para si mesmo.Um dia a gente se estranha diante do espelho e começa a procurar um sinal,alguma coisa familiar embaixo das camadas que o tempo vai esculpindo na face.
As idiossincrasias e manias se cristalizam.Aquilo que se constituiu como a essência de nossa subjetividade,se torna um obstáculo.Um muro que temos de furar todos os dias.Manter-se vivo é ir se mutilando paulatinamente.Em nome da qualidade de vida vai se perdendo,a própria vida.
Todo idoso lúcido deve se abster de falar.Todo o perigo está nas palavras.Elas fogem ou confundem,criando o vazio e o caos.Pelas palavras vêm os diagnósticos, as humilhações e os anacronismos.Quando os ratos começaram a invadir meu navio,achei no mouse o aliado que foi aos poucos me conduzindo para o mundo virtual.Encontei na web um oráculo stand-by que conduz os meus passos para não sei onde. Este não lugar, esse turismo sem fronteiras que as viagens virtuais permitem, me levaram a comparar o espaço ciber com o imaginário. O imaginário pós-moderno é virtual e o clichê a garantia de comunicação.

7, moscas


Acho que transferi minha caduquice para o mundo virtual.Nasci com uma deficiência congênita denominada poliaudiofasia.Por causa disso,fui perdendo a capacidade de ouvir certos fonemas.Não que estivesse surda,era apenas seletiva em matéria de som. Assim tive que abdicar da palavra oral. Resumindo, em boca fechada não entra mosca. Foi um processo longo e doloroso.Começou na adolescência e à medida que os anos passavam, fui aprimorando esse dom através de um laconismo irritante.Fazia papel de tola,embora o meu olhar e um indefectível sorriso no canto da boca, escondessem outras patologias.
Na internet me sinto totalmente livre.Posso desfilar toda a minha dor e nudez, sem preconceitos e conceitos. Perdida no meio de HTLMs,HDs,GB,CSI,RAM,me sinto segura na ignorância.
O que fazer com tanta informação solta.Onde poderia chegar nesta loucura associativa onde tudo pode remeter a tudo.Digito uma palavra e surge na tela centenas de entradas.Fico brincando,não sei bem o que quero.Gosto de me perder nos becos virtuais e ouvir o rumor analógico das palavras. Neste mundo as palavras perdem todo o seu peso semântico e finalmente estão livres da relação com o real......as palavras se desgrudam das coisas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

.coleção

Quem coleciona,ou guarda coisas,sempre trabalha com algum sistema de classificação.Geralmente, isto fica implícito (ou inconsciente). Explicitar essas categorias é o primeiro passo, na busca de um entendimento. A diferença é da luz para a escuridão




.coleção

6.contradição,ambiguidades e paradoxos


Recebi o seguinte e-mail:



Sou Patética (substantivo próprio feminino). Acho que por causa do meu nome, homenagem a uma sonata, adquiri hábitos um tanto bizarros. Um deles é a mania de ordem alfabética e de definir as coisas pelo o que elas não são. Por exemplo,arte:

a)arte não é religião, mas pode ser uma revelação.

b)arte não é moralista,mas deve ser ética.

c)arte não é didática, embora se aprenda com ela.

d)arte não é falsa,mas vive da mentira.

e)arte não é marketing,mas precisa do mercado.

f)arte não é teoria,mas almeja o universal.

g)arte não fuma cachimbo,mas pode ser um pipe.

h)arte não é humor, mas definitivamente,é irônica
.
g)arte não precisa do tempo e não abdica da tradição
.
h)arte não é um lugar, pode estar na padaria.

Não chegarei ao fim do alfabeto porque preciso comprar pão, só posso dizer que arte é, com toda certeza, contradição.............ou uma rima não é solução.



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terça-feira, 15 de setembro de 2009

 
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5.nus artisticos (definições de arte)

1 Diante do espelho nua, observo meu pé e estilhaço o vidro. Cubismo
2-------------------------- só enxergo a moldura. Abstracionismo
3-------------------------- vejo um paquiderme prognata. Surrealismo.
4-------------------------- chupo o dedão do pé. Dadaísmo.
5-------------------------- furo os olhos. Barroco.
6-------------------------- defeco sobre flores brancas.Arte Conceitual.
7-------------------------- enfio uma garrafa de coca-cola no cu. Pop art.
8-------------------------- saio correndo. Hiper-realismo.

museu do imaginário

<> Paisagem Humana, arquitetura caipira-vitoriana-barroca e sede oficial do bestiário doméstico,

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

geladeira vermelha, em fundo azul.


A geladeira é mais velha do que eu.Funciona bem, mas tem outra função:congelar clichês.Considero-a a mais importante das instalações da minha casa. Vivo dentro de espaços provisórios.Recicláveis e solenes.Levei a arte a sério, acreditei nas teorias e trouxe tudo isso para o cotidiano. Quero deixar registrado.O Bestiario Domestico, de agora em diante,sem acentos,começa a digitalizar meu acervo.Gostaria de saber quem escreveu o seguinte texto:
Idealmente,eu deveria conseguir me tornar kitsch.Quando tem êxito,a arte consiste em produzir novos clichês, portanto,se o que faço,verdadeiramente, tem êxito,deveria ser considerado uma fonte de futuro Kitsch.Esse, seria o verdadeiro sucesso. Um novo tipo de kitsch depressivo,talvez. Tenho muita esperança.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

4. garrafas


Estava pasma,que estranho diálogo.E os sapatos então... não permitiam nenhuma dúvida,estava diante de uma pessoa muito especial.Absorta nestas considerações, nem observei que a barca atracara e perdi PS (assim passei a nominá-la)de vista.Corri em vão atrás dos sapatos vermelhos embaralhados na confusão dos pés nervosos.Na multidão ou no estouro da boiada (assim era chamada a abertura das cancelas),esperei que o fluxo humano se desfizesse na esperança de encontrar PS.No porto,sozinha,olho para o mar e encontro, quase caindo na água,um pé do sapato vermelho esmagado.
Recolho os restos do que foi um sapato e sigo meu caminho. Até hoje não me conformo em ter perdido de vista aquela mulher,com um diálogo tão profundo.Não riam de mim, naquela época,achei essa conversa tudo de bom.Não é fácil encontrar uma pessoa com as mesmas referencias.
Hoje percebo claramente,que aquele encontro foi fundamental para minha vida.Continuo obcecada por sapatos e pelas palavras capazes de operar milagres. O fantasma de PS me persegue e me diz que é possível um diálogo entre humanos.Que as palavras servem para dar nome, até para o que não existe.