quinta-feira, 10 de março de 2011

palavras


Eu fico por ali,beirando no artesanato,raspando no kitsch,forçando os limites tênues entre a arte e o artístico,entre o ornamental e o decorativo, entre o sublime e o grotesco,a imanência e transcendência.Este é o meu lugar. No intervalo, no meio fio, embaixo da escada,fora da História,na ambigüidade e no paradoxo. Prefiro a retórica tosca do lugar comum, aos discursos pedantes e metafisicos. Explicar o fazer artístico é um saco. É insuportável um certo didatismo bem intencionado,filosofias,ideologias que contemplam tudo, tentativas patéticas de encaixar um fazer,uma cor,uma luta, nas gavetas e escaninhos da tradição ou do mercado.
No fluxo do tempo,signos de outros signos se alternam na dança macabra da falta de sentido. Dependente do código,do repertório, dos credos e das doenças, me arrisco na deriva,tento sobreviver nos vãos e becos ,nos atalhos escorregando com as mãos cheias e a cabeça ferida. Só me resta fazer coisas e deixar que a poeira impregne e cubra com seu manto,um ato, um tato, uma luz,uma flor seca esquecida no vaso com água podre.Fósseis deslocados,artificialmente colocados, ornam com delicadeza o desamparo de não ter palavras.
Meus trabalhos existem, porque me faltam palavras. Têm a função meramente decorativa ou narrativa. São frases que jamais consegui dizer e histórias que não consigo contar. São todos falsos,mentirosos,docemente ridículos e datados. Não paro de citar, de repetir e enfeitar com irreverência e respeito, todos aqueles que me antecederam.Neste sentido são ingênuos,naifs. Não têm escola, não têm estilo. Não são herméticos nem vanguarda. Estão na busca mais vã, da relação,da ação contida no desespero e na apatia e na beleza da morte antecipada.A harmonia irônica de cores estridentes e geometrias capengas. Só desejam uma parede branca,um corredor iluminado e um olhar bem humorado.