quarta-feira, 17 de março de 2010
Prece: bilhete suicida
Foi por amor,juro que foi.
Em nome do pai,do filho,da Santíssima Trindade.
Das famílias,ilhas de perversidades e ternuras.
Das cidades,desertos de multidões acéfalas.
Por Jeová,Alá e tudo por demais sagrado e prosaico.
Por todas as palavras negadas,sublimadas,repetidas violências.
Pelo excesso de leis,imagens, informação e ruidos.
Pelos fascismos e todos os ismos que invadem meu corpo,
no creme dental,mal rompe a manhã.
Pela qualidade de vida,esguia,musculosa sem dores,odores,
e todos os fluidos e trocas de carbono.
Por Marx, Freud,Foucault, fuck all.
Pela ética dos mercados,pelos direitos do consumidor,
assumo o meu horror,a minha dor.
Estou de saco cheio,com as mãos vazias,
sem meu dicionário,no meio do deserto.
Não tenha medo,o deserto é morto.
Esqueci de morrer,fingindo sentido,fingindo inocência
Cansei de inventar,de jogar e rir sozinha de mim mesma.
Por isto, me mato.
Foi por amor,juro que foi.
foto Carolina Leslie
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O sabor de seus textos. O cheiro. A cor.Fico eu perplexo.
ResponderExcluirverafraga@uol.com.br
ResponderExcluirPerplexa querida... esse teu "bilhete" é tão sério quanto pirraça de moleque. Vai varrer o quintal, lavar titica de passarinho na gaiola, passar uma roupinha a ferro, "esfregar o tacho", como se diz na minha roça. Depois se lava, passa um creminho e dorme o sono dos injustos. Que todos somos.
ResponderExcluirDepois me conta. Ass. Lesinho