segunda-feira, 10 de agosto de 2009

3. sapatos






Tenho uma coleção de garrafas coloridas.Coloco-as sempre juntas em uma janela de vidro para refletirem a luz do sol. Fica tão bonito que parece que a casa está sempre florida. Escolho um dos vasilhames e enfio dentro dele e na internet o seguinte texto: Mês de abril no Rio de Janeiro. Uma luz filtrada e mais sutil incide sobre a proa da barcaça vinda de Niterói. Estou sentada na primeira fileira observando os sapatos dos cidadãos que entram. É pelo sapato que identifico as pessoas e vou inventando histórias para cada par. Súbito um sapato vermelho se destacou na multidão de pretos,marrons, ocres e cor-de-burro- quando- foge. Nunca tinha visto nada igual. A cor cereja-pitanga sobressaía da palheta das sapatarias em marcha. Havia um detalhe surpreendente. Um pé era diferente do outro. Subi o olhar para ver quem portava tamanha maravilha e percebi estarrecida que a mulher se encaminhava para o acento ao meu lado.Não conseguia despregar o olho dos sapatos. Observo no pé direito está gravada a letra P e no esquerdo S. Tomo coragem e me dirijo à pessoa:
-- ah oceano que lindo!
---O que ?
---O Oceano Atlântico, a baía da Guanabara. Navegar é preciso........
---viver não é preciso (respondeu)
-- Pensei,conhece o Fernando Pessoa. Será intima? Arrisquei:
-- você acha a baia da Guanabara desdentada?
---Eu não, quem acha é um antropólogo francês.
---Respondi: tristes trópicos.
---respondeu:as palavras e as coisas

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