quinta-feira, 3 de setembro de 2009

4. garrafas


Estava pasma,que estranho diálogo.E os sapatos então... não permitiam nenhuma dúvida,estava diante de uma pessoa muito especial.Absorta nestas considerações, nem observei que a barca atracara e perdi PS (assim passei a nominá-la)de vista.Corri em vão atrás dos sapatos vermelhos embaralhados na confusão dos pés nervosos.Na multidão ou no estouro da boiada (assim era chamada a abertura das cancelas),esperei que o fluxo humano se desfizesse na esperança de encontrar PS.No porto,sozinha,olho para o mar e encontro, quase caindo na água,um pé do sapato vermelho esmagado.
Recolho os restos do que foi um sapato e sigo meu caminho. Até hoje não me conformo em ter perdido de vista aquela mulher,com um diálogo tão profundo.Não riam de mim, naquela época,achei essa conversa tudo de bom.Não é fácil encontrar uma pessoa com as mesmas referencias.
Hoje percebo claramente,que aquele encontro foi fundamental para minha vida.Continuo obcecada por sapatos e pelas palavras capazes de operar milagres. O fantasma de PS me persegue e me diz que é possível um diálogo entre humanos.Que as palavras servem para dar nome, até para o que não existe.

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