quinta-feira, 1 de outubro de 2009

10. relógio




Sem fio,sem dor, o sistema operacional, opera em mim um sentimento escatológico de prazer. Tudo entra e sai,funciona e flui. Há um certo prazer sensual na ponta dos dedos e nos olhos que perseguem na tela os ícones,os jogos e textos,tudo em tempo real. Sem dúvida há um processo de infantilização dos humanos,uma leveza e um colorido de parque de diversões. A tecnologia põe um sorriso de dente de leite, na face amarga da vida. Sem tempo, sem lugar, livres,leves e soltos,somos turistas pueris.
São Google virou um vício. Já não conseguia dar um passo sem consultar a www. O que mais poderia desejar uma pessoa com limitações físicas importantes,fora do mercado de trabalho e da vida ordinária,sempre avessa ao contato direto com seus semelhantes?
Desde que aprendi a falar, descobri um imenso buraco entre o dito, o visto e o vivido. Não me contentava com o vocabulário, sempre incapaz de chegar lá.Comecei a mentir, inventar e imaginar paisagens que contivessem tudo. Palavras que mobiliassem o meu canto, que fixassem o momento no relógio da parede. Arranco os ponteiros do relógio e deixo-o ali, parado no tempo.

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