quinta-feira, 1 de outubro de 2009

12. barquinho

Sobrevivi . Quase um século de existência, morando de frente para o mar.Da minha casa avistava os navios entrando na baía de Guanabara. Lá vem um barquinho carregado de: gente, projetos,bananas, as bagas do Ceilão. Até hoje não entendo as bagas, as fragas e o cheiro da fábrica de sardinha.
Um dia vi um corpo imenso de um homem boiando no mar.Usava uma camiseta listrada de azul e branco e parecia uma balão inflável .Perguntei quem era e me responderam, não é ninguém. Ninguém ? São os outros ou somos nós para os outros?
Lá vai o barquinho,la nave va e que medo de morrer afogada. Não morri afogada no oceano Atlântico, não morri de morte matada,mas sonhava toda noite com o náufrago. O mar batia sem dó na porta da minha casa e ia me afogando ao poucos,me marcando com salitre e maresia. Era preciso poetizar o mar e transformá-lo em deserto. Ancoro meu barquinho na estante da sala e deixo que a poeira faça seu trabalho.
Preferi o deserto ao canto das sereias e cardumes prateados. O mundo é um deserto cheio de formigas,baratas e outras pestes. Agora, diante do monitor de plasma sinto a aridez do mundo virtual. Perdida nos HTMLS da vida, busco o interlocutor que compartilhe comigo essa visão desértica e deixo o vento me conduzir pelo meio das coisas, que precisam de nomes. Começo a nomear e classificar os objetos que me cercam.

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