sábado, 17 de outubro de 2009

Ucrania


Tese: A arte conceitual ou o segredo da metáfora. Uma abordagem semântico- semiótica da episteme pós moderna.

Hipótese:Só vê o ovo quem o já tiver visto. Todo texto (segundo Umberto Eco) é um tratado de semiótica,ou dito de outra forma,todo texto contém em si,as regras de seu deciframento.Clarice Lispector,resumiu com poesia, no título acima citado, em negrito e itálico,o espírito da coisa: a coisa só existe,depois de nomeada.Agora eu puxo uma nota de rodapé e tento enfiar o meu palito no bolo dos outros.

Rodapé: foi um sonho.Não sei se por efeito de drogas, ou se meu inconsciente está mais relaxado (ou colonizado) e deixou passar muitos detalhes,sutilezas surpreendentes.Foi assim que entendi a arte conceitual.

Instalação: arranha céu na avenida Paulista(altura média),heliporto,uma escada de trocar lâmpadas e ovos, centenas de ovos.Eu estava em cima da escada,tentando equilibrar um ovo na mão.Aí começou o desfile laudatório: motoboys in Black,recepcionistas de saltos altíssimos,putas do baixo Augusta,travecos da USP,o pessoal da cracolandia,médicos do HC,bancários, banqueiros,cabeleireiros,passantes e sobreviventes.Todos ali para reverenciar a mulher que montou a instalação-perfomace e segurava um ovo na mão.Assim que chegaram os fotógrafos e a televisão,os ovos começaram a ser atirados na minha intrépida figura, amarrada em uma túnica laranja budista.Todos esperavam a grande revelação da mulher que tinha descoberto o segredo da metáfora.

Digressão:antes da revelação eco-mística e da transcendência imanente de todo o ovo, antes de ser frito,atendendo ao meu discreto sinal,alguém puxa a escada. Me vi voando e enxerguei meu corpo no asfalto em decúbito dorsal. The end. Acordo, preciso fazer xixi,volto para cama,fecho os olhos e ainda me vejo mortinha da silva,com um sorriso idiota no canto da boca.

Revelação: levanto faminta. Faço uma omelete e como com garfo e faca a minha alucinação.Estou feliz porque fui coerente. A única maneira de revelar o segredo da língua e os mecanismos da metáfora é a morte.O zero de significado. O nada, o vazio sublime de cada palavra desnudada de significados,de místicas, imagens clichês e preconceitos. A pretensão conceitual da arte contemporânea só se realiza se o autor morrer. Morri antes de me tornar cínica e acreditar que uma escada é uma escada e uma rosa é uma rosa.

Conclusão: Sem dúvida, o que aconteceu ontem à noite na avenida Paulista,coloca o nosso país em outro patamar no mundo da arte contemporânea. As fotos e vídeos da instalação,assim como pedaços do manto da artista já valem fortunas. Recolheram-se os órgãos para doação ( exigência da artista). O resto das vísceras e alguns membros serão exibidos (no formol) em importantes museus.

Investigação: a polícia está até hoje atrás de um tal de Wittgenstein. Dizem que foi ele que puxou a escada.

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